quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Romantismo no Brasil - Prosa

Pessoal, adianto aqui (e no post anterior) a próxima aula: A Prosa Romântica no Brasil.

Abaixo um arquivo que encontrei na Internet, contendo mais informações sobre os autores e exercícios ao final (é necessário ter flash instalado).

Literatura - Aula 12 - Romantismo no Brasil - Prosa


Se houver algum problema com o carregamento do arquivo, CLIQUE AQUI para vê-lo no link original.

Até mais!

Romantismo no Brasil - Prosa

A Prosa Romântica no Brasil inicia-se com A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo em 1844, apesar de não ter sido o primeiro em publicação, mas sim em importância. O primeiro romance brasileiro foi O Filho do Pescador de Teixeira de Sousa (1843), mas ele não possui as linhas gerais dos romances românticos.

O marco final desta época é considerado a publicação de O Mulato (Aluísio Azevedo) e de Memórias Póstumas de Brás Cubas (M. de Assis) em 1881, iniciando-se então o Realismo no Brasil.

CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE ROMÂNTICO

a) Detalhes de costumes e de cor local, ou seja, certa fidelidade na descrição de lugares, cenas, fatos, usos e costumes da época em que a história é narrada.

b) Comunhão entre a natureza e os sentimentos das personagens.

c) Triunfo do bem sobre o mal. Nas histórias românticas, os vilões são castigados, ora com a morte, ora com a prisão, com intenção moralizante.

d) Linearidade das personagens, isto é, sem profundidade psicológica, sobressaindo-se a preocupação com os caracteres exteriores: estatura, cor dos olhos, cor dos cabelos, roupas, etc.


MODALIDADES

ROMANCE URBANO
Também chamado de citadino ou de costumes. O autor explora situações, conflitos e convenções sociais típicos da cidade. O Rio de janeiro, por ser o centro cultural do Brasil na época, é a cidade mais retratada nos romances românticos. Os três autores que merecem destaque nessa modalidade de romance são: Joaquim M. de Macedo, José de Alencar e Manuel A. de Almeida.

ROMANCE INDIANISTA
Narrativa preocupada com usos, costumes, tradições do índio brasileiro, com o intuito de transformá-lo em herói. Os romances visam à criação de heróis nacionais, míticos, lendários, tomados como símbolos de elementos formado-res da nacionalidade. Só um romancista explorou esta modalidade: José de Alencar.

ROMANCE REGIONALISTA
Também chamado de sertanejo ou rural. Começou em 1869, com o romance O Ermitão de Muquém, de Bernardo Guimarães. Explora as paisagens e os costumes das ilhas culturais brasileiras: o Nordeste, o Pampa Gaúcho, o Pantanal Mato-grossense, o Sertão de Minas e de Goiás. Nesta modalidade de romance, merecem destaque: Bernardo Guimarães, José de Alencar, Visconde de Taunay e Franklin Távora.

ROMANCE HISTÓRICO
O assunto é fornecido pelo passado histórico, de preferência remoto ou lendário, de modo a permitir a idealização. O compromisso do romancista com a História limita-se à reconstituição do clima da época, à fidelidade aos hábitos e aos costumes. No Brasil, só José de Alencar explorou esta temática.


AUTORES

JOAQUIM MANUEL DE MACEDO

Atravessou todo o movimento romântico e nota-se em sua obra um progresso na técnica literária. Era o autor mais lido no Brasil até o final da década de 40 com O Guarani de Alencar.

São temáticas comuns ás suas obras: namoro difícil ou impossível, presença de jovens casadoiras e estudantes, mistérios de identidade de personagens e identificação final, conflito entre dever e paixão, alguma comicidade, espécie de documento de costumes da época. A linguagem é simples com tramas fáceis, amor e mistério culminando com um final feliz.

Obras:

Romance - A Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845), Os Dois Amores (1848), Rosa (1849), Vicentina (1853), O Forasteiro (1856), O Culto do Dever (1865), A Luneta Mágica (1869), As Vítimas Algozes (1869), O Rio do Quarto (1869), As Mulheres de mantilha 91870), A Namoradeira (1870).
Várias peças de teatro, a poesia A Nebulosa (1857) e outros escritos


MANUEL ANTONIO DE ALMEIDA

Publica em folhetins Memórias de um Sargento de Milícias, obra totalmente inovadora para a sua época. Pode ser considerado o verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro, por não estar vinculado à visão burguesa. Retrata o povo em toda a sua simplicidade, malícia, humor e sátira. Sua descrição não se resume ao ambiente, mas introduz juízos de valor e crítica. Apresenta um anti-herói picaresco, que desde sua origem já está ligado ao real e ao humor. É considerado por muitos como um precursor do Realismo. Caracterizam a obra o estilo frouxo, linguagem por vezes até descuidada e um final feliz.

Obras:

Romance - Memórias de um sargento de Milícias (1852-53)


JOSÉ DE ALENCAR

Consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais: grande proprietário rural, político conservador, monarquista, escravocrata, burguês. Pode-se perceber o medievalismo no personagem de O Guarani, Peri (bom selvagem) que deveria respeitar a realidade social de que ao senhor de tudo deve-se obediência, respeito e lealdade.

Defende o “casamento” entre o nativo e o colonizador numa troca de favores (temática presente em O Guarani - Ceci e família e Peri e em Iracema com Moacir, filho de Iracema e Martim. Tudo isso traduzido numa linguagem coloquial, diálogos bem feitos por sua formação de professor de Português.

Sua vasta obra conta com romances urbanos, históricos, regionais e rurais, além dos indianistas. Iracema é uma obra que denota as grandes características de Alencar: paisagista e pintor de perfis femininos.

Obras:

Romances - Cinco Minutos (1856), O Guarani (1857), Viuvinha (1860), Lucíola (1862), As Minas de Prata (1862), Diva (1864), Iracema (1865), O Gaúcho (1870), A Pata da Gazela (1870), O Tronco do Ipê (1871), Sonhos D’Ouro (1872), Til (1872), Alfarrábios (1873), A Guerra dos Mascates (1873), Ubirajara (1874), Senhora (1875), O Sertanejo (1875), Encarnação (1893).
Algumas peças de teatro, crônicas e autobiografia, crítica e a poesia inacabada O Filho de Tupã


VISCONDE DE TAUNAY

Autor de Inocência, romance regionalista de tom sóbrio e detalhista quanto á paisagem. Obra de pouca fantasia, mas com as relações entre paisagem e o meio bem definidas. Alguns aproximam este romance de um estilo mais realista-naturalista.

Obras:

Romance - A Mocidade de Trajano (1872), Lágrimas do Coração (1873)
Narrativas - Histórias Brasileiras (1874)
Comédia - De mão à Boca se Perde a Sopa (1874)
Drama - Narrativas Militares. Cenas e Tipos (1878), Quadros da natureza (1882), Fantasias (1882), Amélia Smith (1886)


FRANKLIN TÁVORA

Produz uma obra regionalista num tom de manifesto, mas sem muita repercussão da temática nordestina em O Cabeleira. Temática voltada para o banditismo como efeito da miséria, latifúndio, secas e migrações.

Obras:

Contos - A Trindade maldita (1861)
Romance - Os Índios do Jaguaribe (1862), A Casa de Palha (1866), O Cabeleira (1876), O Mulato (1878), Lourenço (1881)
Novela - Um Casamento no Arrebalde (1869)


MARTINS PENA

Ligado ao teatro, inaugura a comédia de costumes com uma sutil sátira social. Por isso sua obra foi aproximada de Memórias de um Sargento de Milícias. Autor com profundo grau de observação, trazendo à cena personagens típicos da sociedade da época.








Fonte:

· Grupo iPED
· Grau 10

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Venha Ver o Pôr do Sol!

Como comentado ontem (na sala 6), segue abaixo o texto de Lygia Fagundes Telles.
Talvez não se encaixe perfeitamente nos temas românticos, pois ela não utiliza melancolia por parte do sujeito que escreve, aliás, é escrito em terceira pessoa, nem idealiza amores como nosso amigo Mr. Azevedo.
Porém assemelha-se muito às obras de Edgar Allan Poe, num tom de conto misterioso (Já leram "O Corvo"? Experimentem "A Queda da Casa de Usher", em inglês "The Fall of the House of Usher").

Deixem suas impressões nos comentários!

Até mais!

*****

Venha Ver o Pôr do Sol, de Lygia Fagundes Telles

Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância...Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? - perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. - Hem?!
- Ah, Raquel... - e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado...Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. - Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol!...Ah, meu Deus...Fabuloso, fabuloso!...Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada...- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo...
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã...Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum - respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: - A minha querida esposa, eternas saudades - leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas...Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. - Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: - Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos...Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas...Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que...- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?...- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer... Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?...- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos...Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando...
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue, dá para ver muito bem...- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça...- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida...- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. - Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Semana de Comunicação Social - FAC Limeira

(Clique na imagem para ampliar)

Romantismo no Brasil - As Três Gerações

Pessoal, matéria de hoje abaixo!

Romantismo no Brasil
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Enjoy it! ;)

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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Álvares de Azevedo, o Poeta Rock 'n Roll!

Pessoal, nesta semana teremos aula na terça-feira! Ok?

Deixo aqui uma prévia sobre a aula (Romantismo no Brasil, lembram?), através de um vídeo sobre a vida de Álvares de Azevedo e sua obra mais conhecida: Lira dos Vinte Anos.



Até mais!

Veja a correção da 1ª prova do vestibular da Direito GV

Neste domingo foram aplicadas provas de redação, português e inglês. Curso Etapa divulga respostas esperadas para a avaliação.
Do G1, em São Paulo

A primeira prova do vestibular para seleção das turmas de 2009 da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Direito GV) aconteceu neste domingo (2), em São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto. A avaliação teve uma redação e questões de português e inglês.

Veja as respostas esperadas, elaboradas por professores do curso Etapa. Os arquivos estão no formato .gif.

Redação

Questão A - português
Questão B - português
Questão C - português

Questão A - inglês
Questão B - inglês
Questão C - inglês

Dos inscritos, 85,28% compareceram aos exames. O maior índice de ausência ocorreu em Ribeirão Preto (19,64%) e o menor em São Paulo (5,57%).

Veja a prova de redação
Veja as questões de português
Veja as questões de inglês

A segunda prova da primeira fase está marcada para o dia 9 de novembro, quando os candidatos serão avaliados pelos exames de artes visuais e literatura, história, geografia e raciocínio lógico-matemático.

Segunda fase

A segunda fase é composta por um exame oral, com duração máxima de 1h30, que ocorre entre os dias 8 e 13 de dezembro, apenas em São Paulo. Os alunos convocados deverão comparecer no dia e horário previamente definidos, a serem divulgados no site www.fgv.br/vestibulares no dia 2 de dezembro.

Não será permitida alteração ou permuta desse agendamento. O candidato deverá estar no lugar da prova com antecedência mínima de 30 minutos do horário marcado, sendo que os portões serão fechados faltando 15 minutos para o início do exame.

O resultado final será divulgado a partir das 12h do dia 18 de dezembro.

Via: G1

domingo, 26 de outubro de 2008

Movimentos Literários

Pra terminar bem este final de semana ensolarado, um compacto com todos os períodos literários do Brasil e de Portugal, contendo principais autores e obras, e as caracteríscas de cada um.



Boa semana!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Evento discute literatura brasileira contemporânea e universo digital

A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) promove no dia 8 de novembro a VII Jornada de Literatura. O objetivo do evento é propiciar a reflexão crítica sobre a Literatura brasileira contemporânea, em poesia e prosa, em contato com o universo digital.

Dirigido a alunos de Literatura e Letras, Comunicação e Mídias Digitais, além de editores, professores da rede pública de ensino e interessados em geral na temática da literatura contemporânea no universo digital.

A jornada acontecerá na Rua Ministro Godói, 969 – Perdizes, São Paulo (SP) Prédio Novo - 3º Andar - Auditório 333.

Mais informações e inscrições pelo telefone (0xx11) 3124-9600, www.pucsp.br/cogeae e infocogeae@pucsp.br.

Via: Vida Universitária

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Figuras de Linguagem: 4 - Figuras de Sintaxe

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões.

Elas podem ser construídas por:

a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
d) ruptura: anacoluto;
e) concordância ideológica: silepse.

Portanto, são figuras de construção ou sintaxe:

a) assíndeto
b) anáfora
c) anástrofe
d) hipálage
e) elipse
f) pleonasmo
g) hiperbato
h) anacoluto
i) zeugma
j) polissíndeto
l) sínquise
m) silepse


Assíndeto

Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.

Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).

Exemplo:

"Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se."
(Machado de Assis)


Elipse

Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.

Exemplo:

"Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas."(1)

-> 1: Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...)


Zeugma

Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.

Exemplo:

"Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários dos Felipes."(1)
(Camilo Castelo Branco)
-> 1: Zeugma do verbo: "e foram assassinados..."


Anáfora

Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.

Exemplo:

"Depois o areal extenso...
Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só..."
(Castro Alves)


Pleonasmo

Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado.

a) Pleonasmo literário

É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.

Exemplo:

"Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quando em visão com os da saudade via."
(Alberto de Oliveira)

"Morrerás morte vil na mão de um forte."
(Gonçalves Dias)

"Ó mar salgado, quando do teu sal
São lágrimas de Portugal"
(Fernando Pessoa)

b) Pleonasmo vicioso

É o desdobramento de idéias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.

Exemplos:

"subir para cima"
"repetir de novo"
"hemorragia de sangue"
"breve alocução"
"entrar para dentro"
"ouvir com os ouvidos"
"monopólio exclusivo"
"principal protagonista"


Polissíndeto

Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical ( geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Exemplo:

"Vão chegando as burguesinhas pobres,
e as criadas das burguesinhas ricas
e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza."
(Manuel Bandeira)


Anástrofe

Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante/determinado).

Exemplo:

"Tão leve estou(1) que nem sombra tenho."
(Mário Quintana)
-> 1: Estou tão leve...


Hipérbato

Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.

Exemplo:

"Passeiam à tarde, as belas na Avenida."(1)
(Carlos Drummond de Andrade)
-> 1: As belas passeiam na Avenida à tarde.


Sínquise

Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.

Exemplo:

"A grita se alevanta ao Céu, da gente."(1)
(Camões)
-> 1: A grita da gente se alevanta ao Céu.


Hipálage

Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a outro, na mesma frase.

Exemplo:

"... as lojas loquazes dos barbeiros."(2)
(Eça de Queiros)
-> 2: ... as lojas dos barbeiros loquazes.


Anacoluto

Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida - desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível.

Exemplo:

"Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas."
(Alcântara Machado)


Silepse

Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas associada.

a) Silepse de gênero

Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).

Exemplo:

"Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito."
(Guimarães Rosa)

b) Silepse de número

Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).

Exemplo:

Corria gente de todos lados, e gritavam."
(Mário Barreto)

c) Silepse de pessoa

Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.

Exemplo:

"Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas."
(Machado de Assis)

Fonte: Cola da Web

Figuras de Linguagem: 3 - Figuras de Pensamento

As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.

São figuras de pensamento:

a) antítese
b) eufemismo
c) ironia
d) apóstrofe
e) gradação
f) prosopopéia
g) paradoxo
h) hipérbole
i) perífrase


Antítese

Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.

Exemplo:

"Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal."
(Rui Barbosa)


Apóstrofe

Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar ênfase à expressão.

Exemplo:

"Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?"
(Castro Alves)


Paradoxo

Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo.

Exemplo:

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;"
(Camões)


Eufemismo

Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.

Exemplo:

"E pela paz derradeira(1) que enfim vai nos redimir Deus lhe pague".
(Chico Buarque)
-> 1: paz derradeira: morte


Gradação

Ocorre gradação quando há uma seqüência de palavras que intensificam uma mesma idéia.

Exemplo:

"Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo."
(Castro Alves)


Hipérbole

Ocorre hipérbole quando há exagero de uma idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto.

Exemplo:

"Rios te correrão dos olhos, se chorares!"
(Olavo Bilac)


Ironia

Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.

Exemplo:

"Moça linda, bem tratada,
três séculos de família,
burra como uma porta:
um amor."
(Mário de Andrade)


Prosopopéia

Ocorre prosopopéia (ou animização ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários.

Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: "O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico..."

Exemplos:

"... os rios vão carregando as queixas do caminho."
(Raul Bopp)

Um frio inteligente (...) percorria o jardim..."
(Clarice Lispector)


Perífrase

Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer nomear.

Exemplo:

"Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil."
(André Filho)

Fonte: Fonte: Cola da Web

Figuras de Linguagem: 2 - Figuras de Harmonia

Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura "imitar"sons produzidos por coisas ou seres.

As figuras de harmonia ou de som são:

a) aliteração
b) paronomásia
c) assonância
d) onomatopéia


Aliteração

Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.

Exemplo:

"Toda gente homenageia Januária na janela."
(Chico Buarque)


Assonância

Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

Exemplo:
"Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam."
(Chico Buarque)


Paronomásia

Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.

Exemplo:

"Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."
(Caetano Veloso)


Onomatopéia

Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.

Exemplo:

"O silêncio fresco despenca das árvores.
Veio de longe, das planícies altas,
Dos cerrados onde o guaxe passe rápido...
Vvvvvvvv... passou."
(Mário de Andrade)

"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno."
(Fernando Pessoa)

Fonte: Cola da Web

Figuras de Linguagem: 1 - Figuras de Palavra

As figuras de palavra consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação.

São figuras de palavras:

a) comparação
b) metáfora
c) metonímia
d) sinédoque
e) catacrese
f) sinestesia
g) antonomásia
h) alegoria


Comparação

Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.


Exemplos:

"Amou daquela vez como se fosse máquina.
Beijou sua mulher como se fosse lógico."
(Chico Buarque)

"As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço, negros xales nos ombros, pareciam aves noturnas paradas..."
(Jorge Amado)


Metáfora

Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.

Exemplo:

"Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão."
(Machado de Assis)


Metonímia

Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:

· o continente pelo conteúdo e vice-versa:
"Antes de sair, tomamos um cálice(1) de licor."
-> 1: O conteúdo de um cálice.

· a causa pelo efeito e vice-versa:
"E assim o operário ia
Com suor e com cimento(2)
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento."
(Vinicius de Moraes)
-> 2: Com trabalho.

· o lugar de origem ou de produção pelo produto:
"Comprei uma garrafa do legítimo porto(3)."
-> 3: O vinho da cidade do Porto.

· o autor pela obra:
"Ela parecia ler Jorge Amado(4)."
-> 4: A obra de Jorge Amado.

· o abstrato pelo concreto e vice-versa:
"Não devemos contar com o seu coração(5)."
-> 5: Sentimento, sensibilidade.

· o símbolo pela coisa simbolizada:
"A coroa(6) foi disputada pelos revolucionários."
-> 6: O poder.

· a matéria pelo produto e vice-versa:
"Lento, o bronze(7) soa."
-> 7: O sino.

· o inventor pelo invento:
"Edson(8) ilumina o mundo."
-> 8: A energia elétrica.

· a coisa pelo lugar:
"Vou à Prefeitura(9)."
-> 9: Ao edifício da Prefeitura.

· o instrumento pela pessoa que o utiliza:
"Ele é um bom garfo(10)."
-> 10: Guloso, glutão.


Sinédoque

Ocorre sinédoque quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:

· o todo pela parte e vice-versa:
"A cidade inteira(1) viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos(2) de seu cavalo."
(J. Cândido de Carvalho)
-> 1: O povo.
-> 2: Parte das patas.

· o singular pelo plural e vice-versa:
"O paulista(3) é tímido; o carioca(4), atrevido."
-> 3: Todos os paulistas.
-> 4: Todos os cariocas.

· o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum):
"Para os artistas ele foi um mecenas(5)."
-> 5: Protetor.

* Modernamente, a metonímia engloba a sinédoque.


Catacrese

A catacrese é um tipo de especial de metáfora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito estilístico."
(Othon M. Garcia)

São exemplos de catacrese:

"folhas de livro"
"dente de alho"
"céu da boca"
"mão de direção"
"asa da xícara"
"pele de tomate"
"montar em burro"
"cabeça de prego"
"ventre da terra"
"sacar dinheiro no banco"


Sinestesia

A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).

Exemplo:

"A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal."
(Augusto Meyer)


Antonomásia

Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue.

Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio.

Exemplos:

"E ao rabi simples(1), que a igualdade prega,
Rasga e enlameia a túnica inconsútil;
(Raimundo Correia)
-> 1: Cristo

Pelé (= Edson Arantes do Nascimento)
O Cisne de Mântua (= Virgílio)
O poeta dos escravos (= Castro Alves)
O Dante Negro (= Cruz e Souza)
O Corso (= Napoleão)


Alegoria

A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um referencial e outro metafórico.


Exemplo:

"A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente..."
(Machado de Assis)

Fonte: Cola da Web

Figuras de Linguagem

Vou dividir em 4 posts um material que encontrei no site Cola da Web e será de muita serventia para os estudos!

Como é longo, vou deixar aqui a explicação que o site traz sobre as Figuras de Linguagem e depois colocarei os próximos quatro sobre cada tipo de figura.
Qualquer dúvida, podemos conversar durante as aulas. Ok?

***
Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso lingüístico para expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso.

As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A palavra empregada em sentido figurado, não- denotativo, passa a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo.

As figuras de linguagem classificam-se em:

a) figuras de palavras;
b) figuras de harmonia;
c) figuras de pensamento;
d) figuras de construção ou sintaxe.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Noivado do Sepulcro, de Soares de Passos

Como havia prometido postar o texto do Soares de Passos nessa semana, aqui está!
Até porque estou muito "byroniana" neste final de semana, e um poema fúnebre cai bem! rssss

Deixo também aqui um vídeo que encontrei no YouTube.

É uma leitura do poema feito para um trabalho de escola, então os alunos combinaram poema e música. O resultado ficou bom!

E bem diferente da minha leitura. Queria ter sotaque português, confesso! rss

Então agora deixo com vocês o texto e o vídeo.

E só pra relembrar, amanhã, 18/10/08, estarei no cursinho a partir das 14h00, no plantão. Quem tiver dúvidas é só chegar! ;)

Ok?

Bom final de semana!
Nos vemos na próxima aula!

*****



O Noivado do Sepulcro
Soares de Passos

Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

"Mulher formosa, que adorei na vida,
"E que na tumba não cessei d'amar,
"Por que atraiçoas, desleal, mentida,
"O amor eterno que te ouvi jurar?

"Amor! engano que na campa finda,
"Que a morte despe da ilusão falaz:
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
"Do pobre morto que na terra jaz?

"Abandonado neste chão repousa
"Há já três dias, e não vens aqui...
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa
"Sobre este peito que bateu por ti!

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!

– "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda
Responde um eco suspirando além...
– "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
"Vês este peito? reina a morte aqui...
"É já sem forças, ai de mim, gelado,
"Mas inda pulsa com amor por ti.

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
"Da sepultura, sucumbindo à dor:
"Deixei a vida... que importava o mundo,
"O mundo em trevas sem a luz do amor?

"Saudosa ao longe vês no céu a lua?
– "Oh vejo sim... recordação fatal!
– "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
"Quero o repouso de teu frio leito,
"Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrada, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Foi Demais!

Ufa!
Finalmente um tempinho pra colocar as coisas em dia! ;)

Pessoal, quero deixar aqui o meu MUITO OBRIGADA pela presença de vocês no Altas Horas Práxis!



Valeu pela energia, pelo trabalho, pelas risadas, pelo sono quase deixado de lado, por tudo mesmo!


Valeu todo o cansaço acumulado! rsss

E quero dizer também que amei dar aula com a Katita, e que a gente poderia fazer isso mais vezes! hehehehe

Bom, quem tem Orkut pode me procurar por lá, adicionar meu perfil e fuçar à vontade nas fotos! As que tirei com a minha câmera estão lá! ;)

Quem não tem, depois vou colocar no meu álbum do Picasa. Ok?

Beijos e até a próxima aula!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Cursinho promove “Altas Horas Práxis”

10/10/2008 - 07:32:00

Sábado à noite é hora de ir para a balada, certo? Não para os alunos do Curso Pré-Vestibular, pelo menos no próximo final de semana.

A partir das 21h de sábado, 11 de outubro, até as 6h de domingo, acontece no pátio do CEIEF “Jamile Caram” o primeiro “Altas Horas Práxis”, organizado pelo Cursinho, que é oferecido pela Prefeitura por meio da Secretaria Municipal da Educação.

Várias atividades estão previstas aos alunos das modalidades Extensivo e Semi, para descontrair sem perder o foco nos estudos. “A idéia é aliviar o estresse com a proximidade dos vestibulares, que começam nas próximas semanas”, diz Fábio da Rocha, coordenador do Cursinho Práxis.

E não é para menos: os alunos começam uma maratona de provas que vai até dezembro, em todas as semanas. Enquanto abrem mão da balada, os vestibulandos vão ter uma noite de aulas diferentes, com vídeos e animação em gincanas de conhecimento, acompanhados de um professor de cada matéria.

Os alunos estão em expectativa. Durante o “Altas Horas”, além das aulas durante toda a noite, também terão um lanche, e a “hora do leite”. E pra quem pensar em se render ao sono, Fábio avisa: “Vamos usar alguns mecanismos ‘anti-cochilo’”!

Ciência e aprendizado

Em setembro, estudos e diversão também marcaram a ida dos alunos ao Hopi Hari, para o “Hopi Science Práxis”. No passeio, desenvolveram conceitos voltados à Física que puderam ser estudados com exemplos das atrações do parque, como a montanha russa.

Além de se responsabilizar pela inscrição dos alunos nos vestibulares, o Cursinho organiza e oferece o transporte para as provas em instituições públicas e particulares, mesmo fora do Estado. Oferece ainda plantões tira-dúvidas e sessões de filmes e debates durante os finais de semana.

De acordo com o coordenador Rudnei Rodrigues, essa forma de trabalho dos profissionais do Cursinho, unido ao esforço dos alunos, é que tem garantido uma forma eficaz de aprendizado e trazido resultados positivos com um número crescente de aprovações.

por Assessoria de Comunicações

Fonte:
Prefeitura Municipal de Limeira

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Romance da Caveira

Na última aula falamos sobre as três fases do Romantismo ocorridas em Portugal e ressaltamos os poemas um tanto quanto mórbidos, com cenas de morte e noite, como "O Noivado do Sepulcro" de Soares Passos.

Sabemos que a exaltação de temas noturnos, morte, melancolia, pessimismo é característica forte da segunda fase do Romantismo em Portugal. No Brasil também houve manifestação equivalente, mas veremos com mais detalhes na próxiuma semana.

Em determinado momento lembramos que há uma música brasileira que fala sobre o amor entre duas caveiras. Acredito que a maioria já ouviu.

Ok! Hoje deixarei aqui no blog a letra dessa música, "Romance da Caveira", interpretada por Alvarenga e Ranchinho, e um vídeo que encontrei no YouTube, feito com cenas do filme "A Noiva Cadáver", de Tim Burton.

Aliás, esse filme conta a lenda de um romance que não poderia acontecer pela rivalidade das famílias, pois a moça era de família rica. Como era apaixonada pelo noivo, combinam de se encontrar à meia noite em frente ao cemitério para fugirem e casarem-se. Então, a moça pega algumas jóias da família, algum dinheiro, e fica a espera do noivo em frente ao cemitério. Quando o noivo chega, a mata porque não a ama; queria sua fortuna. Desde então a noiva aparece à meia noite em frente ao cemitério, esperando que o amor perfeito enfim chegue e case-se com ela. Mas o resto da história vocês saberão quando assistirem ao filme.

E na semana que vem, termino a leitura de "O Noivado do Sepulcro" e em seguida coloco o texto aqui pra vocês!

Por enquanto, fiquem com a música que citei:

Romance da Caveira
Alvarenga e Ranchinho

Eram duas caveiras que se amavam
E à meia noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam
Sentados os dois em riba da louza fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia
Ao longe uma coruja cantava alegre
De ver os dois caveiros assim feliz
E quando se beijavam então funébre
A coruja batendo asas pedia bis

Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira por ele se apaixonou
E o caveiro antigo abandonou
O caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de modo romanesco
Por causa desta ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco



Até a próxima aula! ;)

O Romantismo em Portugal

As novas ideologias políticas, econômicas e sociais, vieram intervir na sociedade do século XIII. A influência das revoluções francesa e industrial e do pensamento liberal se deu em todos os campos, e a própria literatura mostra essas influências. A liberdade sobrepuja as regras, a razão predomina sobre a emoção. Instaura-se um novo modo de expressão em toda a Europa e, conseqüentemente em Portugal.

O Romantismo, designa uma tendência geral da vida e da arte, um certo momento delimitado. O comportamento romântico caracteriza-se pelo sonho, pelo devaneio, por uma atitude emotiva, subjetiva, diante das coisas. Afinal, o pensamento romântico vai muito além do que podemos ver; procura desvendar o que estamos sentindo. O Romantismo não conta, faz de conta, idealiza um universo melhor, defendendo a idéia da expressão do eu-lírico, onde prevalece o tom melancólico, falando de solidão e nostalgia.

Enfim, o ideal romântico, tenta colocar o universo que presenciamos, de forma subjetiva, sendo que a expressão do sentimentalismo não precisa obedecer a nenhuma regra, antes adorada pelos clássicos.

INTRODUÇÃO DO ROMANTISMO EM PORTUGAL.

O advento do Romantismo em Portugal, vem apenas confirmar a diluição do Arcadismo.

Portugal, é reflexo dos dois acontecimentos que marcaram e mudaram a face da Europa na segunda metade do século XVIII: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, responsáveis pela abolição da monarquias aristocratas e pela introdução da burguesia que então, dominara a vida política, econômica e social da época. A luta pelo trono em Portugal, se dá com veemência, gerando conturbação e desordem interna na nação.

Com isso, Almeida Garrett acaba por exilar-se na Inglaterra, onde entra em contato com a Obra de Lord Byron e Scott. Ao mesmo tempo, por estar presenciando o Romantismo inglês, envolve-se com o teatro de William Shakespeare.

Em 1825, Garrett publica a narrativa Camões, inspirando-se na epopéia Os Lusíadas. A narrativa deste autor, é uma biografia sentimental de Camões.

Este poema é considerado introdutor do Romantismo em Portugal, por apresentar características que viriam se firmar no espírito romântico: versos decassílabos brancos, vocabulário, subjetivismo, nostalgia, melancolia, e a grande combinação dos gêneros literários.

CARACTERÍSTICAS.

O Romantismo foi encarado como uma nova maneira de se expressar, enfrentar os problemas da vida e do pensamento.

Esta escola, repudiava os clássicos, opondo-se às regras e modelos, procurando a total liberdade de criação, além de defender a "impureza" dos gêneros literários. Com o domínio burguês, ocorre a profissionalização do escritor, que recebe uma remuneração para produzir a obra, enquanto o público paga para consumi-la. O escritor romântico projetava-se para dentro de si, tendo como fonte o eu-lírico, do qual fluía um diverso conteúdo sentimentalista e, muitas vezes, melancólico da vida, do amor e, às vezes, exageradamente, da própria morte. A introversão era característica essencialmente romântica.

A natureza, assim como a mulher são importantes pontos desse momento. O homem, idealizava a mulher como uma deusa, coisa divina e, com isso, retornava ao passado, no trovadorismo, onde as "madames" eram tão sonhadas e desejadas, mesmo que fossem inatingíveis. Ao procurar a mulher de seus sonhos e, então, frustrar-se por não encontrá-la ou, muitas vezes, por encontrá-la e perdê-la, o romântico entrava em constante devaneio. Para amenizar a situação, ao escrever despojava todos os seus anseios, procurando fugir da realidade, usando do escapismo, onde, não raramente, tinha a natureza como confidente. Outra forma de escapismo utilizada, era o escapismo pela obscuridade, onde buscavam o bem-estar nos ambientes fúnebres e obscuros. Essas frustrações tidas por amores ou simples desilusões com a vida, provocaram muitos suicídios. Daí a grande freqüência dos temas de morte nos poemas românticos, o que caracteriza o mal-do-século.

O PRIMEIRO MOMENTO DO ROMANTISMO.

Como toda tendência nova, o Romantismo não veio implantar-se totalmente nos primeiros momentos em Portugal. Inicialmente, buscava-se gradativamente, apagar os modelos clássicos que ainda permeavam o meio sócio-econômico. Os escritores dessa época, eram românticos em espírito, ideal e ação política e literária, mas ainda clássicos em muitos aspectos.

Almeida Garrett.

Almeida Garrett, cultivou a oratória parlamentar, o pensamento pedagógico e doutrinário, o jornalismo, a poesia, a prosa de ficção e o teatro, o qual entrou em contato com o de Shakespeare quando em exílio na Inglaterra. Teve uma vida sentimental bastante atribulada em que se sobressai o seu romance adúltero com a viscondessa da Luz, a qual inspirou seus melhores poemas.

Na poesia, assimilou os moldes clássicos e morreu sem tornar-se romântico autêntico, pois carecia do egocentrismo tão almejado pelos românticos, deixando sua fantasia no teatro e na prosa de ficção. Escreveu Camões (1825), Dona Branca (1826), Folhas Caídas (1853), Viagens na minha terra (1846), dentre outras.

Alexandre Herculano.

Herculano, exilou-se na Inglaterra e na França, criando polêmica com o clero, por participar da lutas liberais. Junto com Garrett, foi um intelectual que atuou bastante nos programas de reformas da vida portuguesa.

Na ficção de Herculano, prevalece o caráter histórico dos enredos, voltados para a Idade Média, enfocando as origens de Portugal como nação. Além disso, ocorrem muitos temas de caráter religioso. Quanto à sua obra não-ficcional, os críticos consideram que renovou a historiografia, uma vez que se baseia não mais em ações individuais, mas no conflito de classes sociais para explicar a dinâmica da história.

Sua obras principais são: A harpa do crente (1838), Eurico, o presbítero (1844), dentre outras.

Castilho.

Castilho, tem como principal papel traduzir poetas clássicos. Sua passagem pelo Romantismo é discreta, mesmo que tenha sido o provocador da Questão Coimbrã.

A história de Castilho é a dum grande mal-entendido: graças à cegueira, que lhe dava um falso brilho de gênio à Milton, mais do que à sua poesia, alcançou injustamente ser venerado como mestre pelos românticos menores. Não obstante válida historicamente, sua poesia caiu em compreensível esquecimento.

O SEGUNDO MOMENTO DO ROMANTISMO.

Neste momento, desfazem-se os enlaces arcádicos que ainda envolviam os escritores da época. Aqui, notamos com plena facilidade o domínio da estética e da ideologia romântica. Os escritores tomam atitudes extremas, transformando-se em românticos descabelados, caindo fatalmente no exagero, tendenciando temas soturnos e fúnebres, tudo expresso numa linguagem fácil e comunicativa.

Soares de Passos.

Soares de Passos constitui a encarnação perfeita do "mal-do-século". Vivendo na própria carne os devaneios de que se nutria a fértil imaginação de tuberculoso, sua vida e sua obra espelham claramente o prazer romântico do escapismo das responsabilidades sociais da época, acabando por cair em extremo pessimismo, um incrível desalento derrotista

Obra: Poesias (1855).



Camilo Castelo Branco.


Casou-se com uma jovem de 15 anos, a quem abandonou com uma filha; em seguida raptou outra moça, sua prima, e com ela passou a viver. Acusado de bigamia, foi preso. Sua primeira esposa morreu e, logo em seguida, a filha. Abandonou a prima e viveu amores passageiros com outra jovem e com uma freira. Uma crise religiosa levou-o a ingressar num seminário, do qual desistiu. Conheceu Ana Plácido, senhora casada que seria o grande amor de sua vida. Ocorre sua primeira tentativa de suicidar-se, diante da impossibilidade de viver com ela. Mas, finalmente passaram a viver juntos o que lhes custou um processo por adultério. Ambos foram presos. Na prisão, Camilo escreveu Amor de Perdição. Absolvidos e morto o marido de Ana, se casaram. Alguns anos depois da morte de Ana, Camilo, vencido pela cegueira, acaba por suicidar-se.

Suas obras principais: Amor de Perdição (1862), Amor de salvação (1864), A queda dum anjo (1866), dentre outras.

O TERCEIRO MOMENTO DO ROMANTISMO.

Acontece aqui, um tardio florescimento literário que corresponde ao terceiro momento do Romantismo, em fusão dos remanescentes do Ultra-Romantismo. Esse período é marcado pela presença de poetas, como João de Deus, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais, Pinheiro Chagas e Júlio Dinis, que purificam até o extremo as características românticas.

Tomás Ribeiro mistura a influência de Castilho e de Victor Hugo, o que explica o caráter entre passadista e progressista da sua poesia.

Bulhão Pato começa ultra-romântico e evolui, através duma sátira às vezes cortante, para atitudes realistas e parnasianas.

Faustino Xavier de Novais dirigiu uma folha literária. Satirizou o Ultra-Romantismo.

Manuel Pinheiro Chagas cultivou a poesia de Castilho, que motivou a Questão Coimbrã; a historiografia e a crítica literária.

João de Deus.

João de Deus foi apenas poesia. Lírico de incomum vibração interior, pôs-se à margem da falsa notoriedade e dos ruídos da vida literária e manteve-se fiel até o fim a um desígnio estético e humano que lhe transcendia a vontade e a vaidade. Contemplativo por excelência, sua poesia é a dum "exilado" na terra a mirar coisas vagas e por vezes a se deixar estimular concretamente.


Júlio Dinis.


Os poemas de Júlio Dinis armam-se sobre uma tese moral e teleológica, na medida em que pressupõem uma melhoria, embora remota, para a espécie humana, frontalmente contrária à desesperação e ao amoralismo cético dos ultra-românticos, numa linguagem coerente, lírica e de imediata comunicabilidade. Conduz suas histórias, sempre a um epílogo feliz, não considerando a heroína como "mulher demônio", mas sim como "mulher anjo".

Sua principal obra: As pupilas do senhor reitor.

CONCLUSÃO.

Compreendemos que o Romantismo, não passou de uma forma de repudiar as regras que contornavam e preenchiam o campo literário da época que, juntamente com a ideologia vigente, traziam um enorme descontentamento. Este momento em que a literatura presenciava, talvez fosse, o marco principal para a definitiva liberdade de expressão do pensamento, que viria se firma, tardiamente com o Modernismo.

Fonte:
· Cola da Web